quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Olhar de negação: "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais..."





Fui em uma reunião de pais e mestres ontem. Pais de jovens de 15 anos. Sentei-me ao fundo do grande auditório e, ao olhar para aqueles pais, fui invadida por uma estranha tristeza. Não soube explicar em um primeiro momento  aquele sentimento. Precisava digerir e somente depois consegui identificar a causa da minha tristeza. Não vi ali homens e mulheres, vi apenas pais e mães. Pensei que, com o passar dos anos, “o sistema” torna todos iguais, mas percebi que não. Não foi o sistema que os corrompeu, foram eles mesmos que furtaram de si sua essência: seu lugar no mundo enquanto pessoa.  E aqui não falo do aspecto estético.
Pude ver a distância entre  os casais, embora muitos estivessem de mãos dadas. Outros já nem companhia tinham mais – não porque o outro não pôde ir à reunião, mas porque já não fazem mais nada juntos. Vi o olhar distante,  o corpo e o pensamento agindo como mandam as regras.  Pareciam soldados. Todos ali por uma mesma causa.
Já havia refletido um pouco sobre essa passagem do tempo quando ia às reuniões  da minha outra filha, mais velha. Percebia que muitos dos divórcios ocorriam nessa faixa etária.
Com o passar dos anos, agora muito próxima da idade dos outros pais – na época da Victória eu sempre era a mais nova - , me entristeci com o que vi.
Fui mãe menina. Amo ser mãe,  nasci para isso. Mas em toda minha maternagem nunca deixei de me olhar como um ser apartado. Esse negócio de que ser mãe completa tudo, que filhos são a razão do viver, eu deixo para as mães culpadas. Acho que ser mãe é uma baita responsabilidade, um troço que por vezes enche o saco e tem que ser muito mulher para poder conduzir outras vidas e a sua ao mesmo tempo.  Nada fácil. Quem é mãe ou pai sabe da exigência que nos é imposta dia a dia. É preciso rebolar para que os filhos entendam que não somos devedores e sim humanos. Deixar de ser homem e mulher para ser pai e mãe é dar um tiro no pé.  Com o tempo, na melhor das hipóteses, a demanda diminui – por volta dos 15 anos - e, ao olhar para o lado, não reconhecerá seu companheiro. Sou da opinião de  que ser mãe ou pai é uma opção e que dá perfeitamente para continuar sendo ‘gente’. Por que não é preciso ser alienado, irresponsável, mas também não é preciso ser certinho, nos moldes que nossas mães e pais nos “ensinaram” – homens e mulheres de bem ou honestos. Tenho medo disso! É claro que não dá para ser amigo, "brother", mas não precisamos de tanta distância com nossos filhos.  Prego sim uma hierarquia com os meus. Eu sou a mãe e eles filhos, mas me recuso a não me arrumar, não ter meus desejos, meus gostos e vontades. Meus filhos riem de mim até e eu nem ligo. Continuo dançando meu funk, cantarolando minhas músicas bregas, chorando na frente deles, beijando na boca, pedindo colo, berrando com eles, sendo sargentão...sendo humana.
Eu me nego ser um soldado dentre tantos. 


ESLF


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