terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sedução


...a voz, o diálogo secreto dos olhares, o perfume, certo modo de andar, com passo solene, ou aquele gesto tão sedutor: positivamente, tudo o que diz respeito ao outro pode ser fonte de sedução quando se põe diante do sujeito como aparência alusiva que remete a significados ocultos que desafiam ser revelados. A sedução, como o amor, vive do segredo, da necessidade sempre renovada de descobrir o sentido fugaz de algo que ainda continua escondido, entre presença e ausência.
Essa alguma coisa que procuramos no outro está nas profundezas do nosso ser e não há introspecção, não há experiência que os coloque em relação com o inconsciente como o amor; só então podemos nos conhecer, e aprendermos a nos confrontar com o lado obscuro da existência. É também um fato doloroso porque, enfim, teremos de dar-nos conta de que o segredo do outro é na realidade o resultado de uma projeção psíquica.

Apesar das ilusões e das desilusões, não se pode deixar de ser fascinado e seduzido; 'o' que nos seduz (ou 'quem' nos seduz) consegue, com sua presença alusiva e inquietante, colocar interrogações vitais, violando a nossa 'inocência'. 
Ser seduzido significa perder as próprias certezas e, evidentemente, se não conseguimos fazer-nos seduzir, permanecemos em certo estado de inocência infantil, não tendo mais oportunidade de conhecer realmente a nós mesmos. Eu quisera concluir dizendo que as páginas mais belas de Jung, ou também as páginas mais belas de cada pessoa que consegue exprimir a própria criatividade, decorrem sempre de uma experiência de sedução, que coincide com a tomada de consciência do próprio mundo interior. Um doloroso caminho, um caminho que nos impele à loucura, mas ninguém teria dúvida em escolher entre a inocência e a possibilidade de ser encantado por outro.

A. Carotenuto.  



Um comentário:

  1. Amo esse autor! Meu preferido!!
    De qual livro é este texto?

    Tô te esperando querida!

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