Perdi várias coisas em Buenos Aires. Pela pressa ou por azar, ninguém sabe onde foram parar. Saí com um pouco de roupa e um punhado de papéis.
Não me queixo. Com tantas pessoas perdidas, chorar pelas coisas seria desrespeitar a dor.Vida cigana. As coisas me acompanham e vão embora. São minhas de noite, perco-as de dia. Não estou preso às coisas; elas não decidem nada.
Quando me separei de Graziela deixei a casa de Montevidéu intacta. Ficaram os caracóis de Cuba e as espadas da China, os tapetes da Guatemala, os discos e os livros e tudo. Levar alguma coisa teria sido um roubo. Tudo isso era dela, tempo compartido, tempo que agradeço; e me larguei no caminho, rumo ao não sabido, limpo e sem carga.
A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo.
Febre de meus adentros: as cidades e as gentes, soltas da memória, navegam para mim: terra onde nasci, filhos que fiz, homens e mulheres que me aumentaram a alma.
(E. Galeano)
Este sim, um olhar essencial. Como disse o salmista: posso ter tdo na vida. Possuir incontáveis bens, até me achar um tanto zen, mas se não tiver o amor no olhar, nada disso me adiantará...
ResponderExcluirO Galeano chega a ser IRRITANTE com tamanhas pertinencia e beleza, SEMPRE. Diabo de homem!
ResponderExcluir"A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo". [2]
ResponderExcluirAté iria travar uma discussão a estilo "sexo dos anjos" agora, mas é melhor ficar só no "boa noite", já que busco, pelo menos, compreender a limitação humana!
Beijo,
Alexandre querido, meu blog seu blog. Todo aberto para discussões! :)
ResponderExcluirbjo enorme pra vc
Américo, 'se não tiver amor no olhar, nada disso adiantará' (2)
Meu olhar transborda amor...
bjo querido
Gabriel, Galeano é o cara!
Tô no aguardo da nossa 'pinguinha'!
bjos
Lindo!
ResponderExcluirVerdade verdadeira!
O fica é sempre o essencial, necessário. A memória é sábia.
Beijos