sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ver e olhar.




"...apesar de não ser o primeiro a debruçar-se sobre a dicotomia ver/olhar, Saramago demonstra uma ânsia tão ardente pela decifração da relação entre esses dois processos que nos reporta a Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, para quem é urgente a necessidade de se atentar para o "puro olhar" ou o "olhar nítido como o girassol". Segundo Caeiro, olhar é mais importante do que pensar, pois pensar é julgar. O puro olhar para Caeiro devolve as coisas ao seu lugar no mundo, sem que se estabeleça uma necessidade artificial de relações e julgamento de valores.
... existe um "ver por ver", sem o ato intencional de olhar e um ver como resultado obtido a partir de um olhar ativo, um "ver depois de olhar".
Saramago insiste para que atentemos para este ponto e expressa toda a sua inquietude na epígrafe de ensaio sobre a Cegueira: "Se podes olhar vê. Se podes ver, repara.". Para Saramago não basta o ver ativo (um ver depois de olhar), é necessário aguçar ainda mais a visão e "reparar". Torna-se imprescindível que atentemos para dimensão semântica do verbo reparar. Segundo definição do dicionarista Aurélio B. de Holanda, o verbo pode ser conceituado como "consertar, restaurar, corrigir, eliminar ou remediar as consequências de uma erro (mal entendido), dirigir ou fixar a vista". Todas essas definições para condizer com a proposta, ou a intenção discursiva de Saramago. Reparar, portanto seria um processo pelo qual o indivíduo "corrigia" sua primeira impressão sobre as coisas adquirida por meio de uma observação superficial"
(I. A. Ferreira)


*que possamos "reparar" nossos olhares.

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