quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Sem expectativas...



Viver sem expectativas...ainda chego lá!

(Klint)

Eu e meu marido saímos cedo de casa. Ele acorda antes de mim. Nem o vejo: pressiona seus lábios em minha cabeça e parte para o curtume.

Às vezes exala de sua boca o aroma de café com leite. Eu gosto de ser beijada dormindo. A testa é a última porção do rosto que lavo na hora de acordar — preservo sua benção.

Não nos falamos durante o dia. Começo o expediente às 8h na fábrica de costura. O intervalo de almoço é de 45 minutos. Nossa vida é baixar o queixo e se concentrar em panos e couros.

Mário ainda trabalha longe, em outra cidade, chega em nossa residência depois da meia-noite. Preparo comidinha e guardo nas panelas. Nunca janto com ele.

Ele pressiona seus lábios em minha cabeça e dorme. Aprendeu a tirar a roupa sem me acordar. Imagino que seus sapatos são silenciosos; as mangas, esvoaçantes; os casacos, de pluma.

Sua nudez não pesa mais no colchão. Ele treinou desaparecer de mim.

É um homem que cuida de meu sono, já que não pode cuidar de minhas palavras.

Experimentamos a solidão do casamento. Aperto o forro dos bolsos para fingir sua mão na minha mão. Sua mão pesa igual à gaveta da cozinha.

Quando cruzamos um olhar no corredor, é uma janela. Ele não amaldiçoa o cansaço, o salário, a falta de esperança. Agradecemos a saúde para continuar.

Eu me habituei com o raso, é só pôr mais água no feijão.

Somos acostumados. Juntamos nossas economias para pagar a casinha. Há mês que sobra, arrumamos até um armário novo para o quarto, com prateleira para botar cobertas e lençóis. Pela primeira vez, tiramos as caixas de papelão debaixo da cama.

Meu homem é do mundo. Eu sou do mundo. Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado sem ele. Sem trocar impressões ou pedir ajuda ou chorar. Sou quase uma viúva. Ele é quase um viúvo.

Mas jamais reclamo porque tenho meu domingo.

No domingo, nos acordamos no mesmo instante. E eu dou um beijo em sua testa.

Preparamos o mate e sentamos na varanda.

Ele me fala o que fez, o que pretende fazer, o que nunca fará.

O vento sopra em nossas oliveiras e ele pergunta se estou com frio.

Naquele momento, ele é meu homem, somente meu, de mais ninguém.

Quando ele é meu, eu também me pertenço.

São seis horas por semana em que não preciso dividi-lo. Cheiro suas golas, deito em seus ombros e penteio seus cabelos com as unhas.

Parece pouco, mas é toda a minha vida, por isso despertarei o resto dos meus minutos. Duvido que alguém seja mais feliz.

(Carpinejar)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Olhar de infância.

(Mauricio e Miguel)


Fabrício Carpinejar está fazendo uma campanha com  fotos de brincadeiras das crianças, AMOR É SAÚDE. Esse mês, para nossa alegria, fomos os contemplados.


"Uma nova premiada da minha campanha "Amor é saúde: mais poesia em 
nossa vida". É Érica Santoro Lins Ferraz, de Ribeirão Preto (SP), com a imagem acima de seu filho Maurício e sobrinho Miguel, em cuspe sincronizado, uma nova modalidade olímpica. Os meninos receberão os bonecos Doutor Poesia."




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Olhar...



Reconhecer o fim de cada ciclo pode ser um grito de liberdade. Saber dizer "basta" não é vã vaidade, é cortar caminho. Toda tragédia traz um tango entre as pernas, dança-lo é o que resta. 

(Linox)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Olhar de negação: "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais..."





Fui em uma reunião de pais e mestres ontem. Pais de jovens de 15 anos. Sentei-me ao fundo do grande auditório e, ao olhar para aqueles pais, fui invadida por uma estranha tristeza. Não soube explicar em um primeiro momento  aquele sentimento. Precisava digerir e somente depois consegui identificar a causa da minha tristeza. Não vi ali homens e mulheres, vi apenas pais e mães. Pensei que, com o passar dos anos, “o sistema” torna todos iguais, mas percebi que não. Não foi o sistema que os corrompeu, foram eles mesmos que furtaram de si sua essência: seu lugar no mundo enquanto pessoa.  E aqui não falo do aspecto estético.
Pude ver a distância entre  os casais, embora muitos estivessem de mãos dadas. Outros já nem companhia tinham mais – não porque o outro não pôde ir à reunião, mas porque já não fazem mais nada juntos. Vi o olhar distante,  o corpo e o pensamento agindo como mandam as regras.  Pareciam soldados. Todos ali por uma mesma causa.
Já havia refletido um pouco sobre essa passagem do tempo quando ia às reuniões  da minha outra filha, mais velha. Percebia que muitos dos divórcios ocorriam nessa faixa etária.
Com o passar dos anos, agora muito próxima da idade dos outros pais – na época da Victória eu sempre era a mais nova - , me entristeci com o que vi.
Fui mãe menina. Amo ser mãe,  nasci para isso. Mas em toda minha maternagem nunca deixei de me olhar como um ser apartado. Esse negócio de que ser mãe completa tudo, que filhos são a razão do viver, eu deixo para as mães culpadas. Acho que ser mãe é uma baita responsabilidade, um troço que por vezes enche o saco e tem que ser muito mulher para poder conduzir outras vidas e a sua ao mesmo tempo.  Nada fácil. Quem é mãe ou pai sabe da exigência que nos é imposta dia a dia. É preciso rebolar para que os filhos entendam que não somos devedores e sim humanos. Deixar de ser homem e mulher para ser pai e mãe é dar um tiro no pé.  Com o tempo, na melhor das hipóteses, a demanda diminui – por volta dos 15 anos - e, ao olhar para o lado, não reconhecerá seu companheiro. Sou da opinião de  que ser mãe ou pai é uma opção e que dá perfeitamente para continuar sendo ‘gente’. Por que não é preciso ser alienado, irresponsável, mas também não é preciso ser certinho, nos moldes que nossas mães e pais nos “ensinaram” – homens e mulheres de bem ou honestos. Tenho medo disso! É claro que não dá para ser amigo, "brother", mas não precisamos de tanta distância com nossos filhos.  Prego sim uma hierarquia com os meus. Eu sou a mãe e eles filhos, mas me recuso a não me arrumar, não ter meus desejos, meus gostos e vontades. Meus filhos riem de mim até e eu nem ligo. Continuo dançando meu funk, cantarolando minhas músicas bregas, chorando na frente deles, beijando na boca, pedindo colo, berrando com eles, sendo sargentão...sendo humana.
Eu me nego ser um soldado dentre tantos. 


ESLF


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Olhar para Iemanjá.

Salve minha mãe Iemanjá! Obrigada pelos cuidados, pela proteção, pelo amor...