quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Olhar real.





As pessoas precisam reformular as expectativas 

que alimentam a respeito da vida a dois. 

Ninguém tem que se preocupar 

se o outro transou ou não com alguém. 

As pessoas devem responder apenas duas perguntas. 

Eu me sinto amada (o)? 

Eu me sinto desejada (o)? 

Se você disser sim para as duas perguntas,

 o que o outro faz quando não está com você 

não diz respeito a você. 

É a forma mais inteligente e respeitosa de viver. 

É uma indelicadeza querer saber da vida do outro! 



 (Regina Navarro Lins via face de Wellington Amorim)


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Olhar para Cinderelas, Barbies, Príncipes e Kens.




Me deparo com uma reportagem na Folha Equilíbrio de hoje: Costura Íntima. Sim, a nova moda são genitálias tipo Barbie. E fico pensando como nossa sexualidade é complicada. Como tudo que mamãe ensinou sobre como ser uma boa moça e as obras de auto-ajuda Walt Disney fuderam com a sexualidade de muitas garotas. Mas não dá para falar apenas de mulheres. Tá cheio de homem que só quer mulher depilada, vestida assim ou assado, mexendo desse ou daquele jeito. Vejo uma geração totalmente perdida. Assim tantas mulheres que vestem roupas sensuais, são liberadas, independentes e que na realidade só estão à procura de um casamento. É no casamento que elas se realizam. Basta pensar no dia do casamento. Seu momento princesa Disney. O noivo? Ele é um mero adorno para essa mulher. Casada, ela pode praticar tudo que mamãe ensinou sobre como criar uma família margarina. Ela desfila sua aliança como um troféu, sabe todas as regras de esposa e mãe perfeita. E agora, com toda modernidade da nossa medicina, ainda podemos ter perseguidas perfeitas: cor-de-rosa e simétricas. Acho que ainda vou precisar de muita terapia para entender tudo isso. Sou obrigada a ouvir o quanto minha amiga trepa, na tentativa de ela me mostrar o quanto o seu casamento é perfeito. Falar de sexo é engraçadinho, mas no fundo todo mundo olha torto. Se digo que gosto de sexo, é pq traio meu marido e se digo que não gosto, eu sou a traída. Mas mulher não deve opinar sobre sexo. Pode apenas fazer uma brincadeirinha ou outra para seduzir ou ser simpática. Tente conversar "de homem para homem" sobre sexo e verá o resultado. Vivemos em meio ao machismo que está principalmente dentro das mulheres. Siga as regras ou você está fora.  Tipo a mini-série Gabriela. Não evoluímos muito de lá para cá. No máximo escondemos melhor nosso falso moralismo. Até o mais liberal dos liberais gosta e aceita tudo, desde que não seja na sua casa ou com a sua família.

No livro Cinquenta Tons de Cinza, a autora traz um faz de conta moderno. Christian Grey é lindo, novo, bem-sucedido, bom de sexo, realiza todas os desejos da Srta. Steele: é atencioso, machão na medida, realiza todos os seus desejos sexuais e materiais, cuida dela em sua totalidade, vai do sexo selvagem ao colinho. Srta. Steele? É a princesa, aquela do Walt Disney, que vive no imaginário de muitas mulheres e homens. Linda, nova e virgem (perseguida de Barbie!!!, lembram?). Ok, aqui também entra a piração de todas nós: príncipe e machão e vocês que rebolem para saber quando queremos um ou outro. Fico pensando que é apenas a continuação dos nossos sonhos (ou seria pesadelo?) . Mas, para além disso, infelizmente, vejo que sexualmente ainda estamos algemados com as regras margarinas que mamãe nos ensinou. Tudo muito bacana, desde que não seja com a minha mulher. E para piorar tudo, com modelos estéticos sem o mínimo de cabimento.


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Olhar de mulher.


As feministas que me perdoem..."nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais" (N. Rodrigues)





"Elas gostam de apanhar." Esta é uma das máximas mais famosas de Nelson Rodrigues, nascido no dia 23 de agosto de 1912 no Recife. Esta afirmação ainda choca muita gente. "Reacionário!", "machista!", gritam os inteligentinhos que nada entendem da "vida como ela é".
É comum se dizer que Nelson está assimilado ao cenário cultural, mas não é verdade. A prova é que livros best-sellers como "Fifty Shades of Grey" ("Cinquenta Tons de Cinza"), de E. L. James, ainda causam ira em setores "progressistas" (a esquerda festiva da qual tanto falava Nelson), apesar de as mulheres "normais", que segundo Nelson são as que gostam de apanhar, estarem devorando o livro com imenso prazer.
No livro de James, Anastasia Steele, universitária, se apaixona pelo poderoso Christian Grey, de quem se torna amante, perdida nas delícias de uma relação "sadomasô light" à qual ela se deixa submeter. E gozará maravilhosamente na submissão. No primeiro momento em que ela o encontra, tropeça e cai, anunciando o domínio que Christian terá sobre ela. Na linguagem feminina comum, "ele tem pegada!". E o afeto feminino responde à "pegada".
Não se trata de dizer que Nelson está estimulando surras, mas sim que o desejo feminino passa pelo gozo da submissão ao macho desejado, dentro do jogo da sedução e do sexo. O "elas gostam de apanhar" no Nelson também fala do enlouquecer o homem, como no caso de adultério, e esperar dele uma bofetada acompanhada de "sua vagabunda", revelando o quanto ele ama esta mulher que o traiu. A psicologia rodriguiana parte da sua máxima "a vida é sempre amor e morte".
"A prostituta é vocação, e não a profissão mais antiga." Há uma relação íntima entre sexualidade feminina e a figura da prostituta como eterna promiscuidade temida. A mulher que nunca encenou "sua" prostituta no sexo nunca fez sexo.
"Dinheiro compra até amor verdadeiro." Imaginemos duas situações hipotéticas.
Hipótese 1: alguém convida você para um longo fim de semana na costa amalfitana na Itália. Executiva, hotel charmoso, longas caminhadas por ruas quietas e antigas, sem pressa, vinho (não "bom vinho" porque isso é papo de pobre querendo parecer rico, do tipo que os jovens chamam de "wannabe", gente que queria ser chique, mas não é).
Hipótese 2: alguém te convida para um fim de semana longo na Praia Grande, você pega oito horas de Imigrantes, trânsito infernal, o carro ferve, você fica na estrada esperando o socorro da Ecovias. Chega lá, apartamento apertado, cheiro de churrasco na laje por toda parte. Crianças dos outros gritando em seu ouvido.
Onde você acha que o amor verdadeiro nascerá? Se responder "hipótese 2", é mentiroso ou não sabe nada acerca dos seres humanos, vive num aquário vendo televisão e se olhando no espelho.
Antes de alguém dizer obviedades entediantes como "preconceito" (agora quando alguém fala para mim "preconceito", não levo mais essa pessoa a sério) ou "depende do contexto em que a pessoa nasce", esclareço: é fácil migrar da Praia Grande para a costa amalfitana, mas não o contrário. E quanto ao "preconceito": não se trata de preconceito, trata-se do tipo de verdade que todo mundo sabe, mas é duro reconhecer. Sim, o amor verdadeiro está à venda, e, enquanto você não entender isso, você permanecerá um idiota moral.
O reconhecimento desse fato torna você adulto, não torna você "melhor". E ser adulto é saber que o mundo não é um lugar "bom". Começando por você e eu.
Sábato Magaldi chamava o Nelson de "jansenista brasileiro". Jansenistas eram escritores franceses do século 17 que partilhavam uma visão de natureza humana na qual somos vítimas de desejos incontroláveis (ou pecado, na linguagem da época) e que, por isso, não conseguimos escapar dessa armadilha que é interior, e não "social". A raiz desse pensamento é a concepção de ser humano de santo Agostinho que eles herdaram. Pascal, Racine e La Fontaine foram jansenistas.
Eu acrescentaria que Nelson era um moralista. Moralista em filosofia é um especialista na alma humana. Proponho que ensinem mais Nelson na escola e menos Foucault.

Pondé, Folha, 27/08/2012.

domingo, 26 de agosto de 2012

Ver e rever.




A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam.E mesmo estes podem prolongar-se em memória,em lembrança, em narrativa.Quando o visitante sentou na areia e disse:"Não há mais o que ver",sabia que não era assim.O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu,ver na primavera o que se vira no verão,ver de dia o que se viu de noite,com o sol onde primeiramente a chuva caía,ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava.É preciso voltar os passos que foram dados,para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.É preciso recomeçar a viagem.Sempre.
Saramago

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

olhar...


Meu fado é de não entender quase tudo
Sobre nada eu tenho profundidades

Manoel de Barros




segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Olhar de amor



Todas os pedaços da minha vida têm algo teu
e isso de verdade não é nada extraordinário
pois tu o sabes tão objetivamente quanto eu.
e mesmo assim tem algo que gostaria de esclarecer
quando digo todos os pedaços
não estou falando só disto de agora,
 isto de te esperar e aleluia te encontrar,
e bosta te perde,
e te encontrar novamente,
e oxalá nada mais.

não estou falando só que de repente digas, vou chorar
e eu com um discreto nó na garganta, então chora.
E que um lindo aguaceiro invisível nos ampare
e talvez por isto saia em seguida o sol.

Nem falando só  que dia após dia
aumente o estoque de nossas pequenas e decisivas cumplicidades,
ou que eu possa crer ou acredite que possa converter meus reveses
em vitórias,
ou me faças o doce presente de teu mais recente desespero.

Não.
A coisa é muitíssimo mais grave
quando digo todos os pedaços
quero dizer que além desse doce cataclismo,
também estás reescrevendo minha infância,
essa idade em que se dizem coisas adultas e solenes
e os solenes adultos as celebram
e tu no entanto sabes que isso não serve.
Quero dizer que estás rearmando minha adolescência,
esse tempo em que fui um velho carregado de receios,
e tu sabes no entanto extrair desse deserto
o meu germe de alegria e regá-lo com o teu olhar.
Quero dizer que estás sacudindo minha juventude,
esse cântaro que ninguém tomou nunca em suas mãos,
essa sombra que ninguém aproximou da sua sombra,
e tu no entanto sabes estremecê-la
até que comecem a cair as folhas secas,
e sobrem só os galhos da minha verdade sem proezas.
Quero dizer que estás abraçando minha maturidade,
esta mistura de torpor e experiência,
este estranho limite de angústia e neve,
esta círio que ilumina a morte,
este precipício da pobre vida.

Como vês é mais grave.
Muitíssimo mais grave.
Porque com estas ou com outras palavras
quero dizer que não és somente
a querida menina que és,
mas também as esplêndidas ou prudentes mulheres
que amei ou amo.

Porque graças a ti descobri,
(dirás já era hora e com razão),
que o amor é uma baía linda e generosa,
que se ilumina e se escurece,
conforme venha a vida,

uma baía onde os barcos 
chegam e se vão,

chegam com pássaros e agouros,
 e se vão com sereias e densas nuvens.
uma baía linda e generosa,
onde os barcos chegam
 e se vão.
Mas tu,
por favor,
não te vás.

(Muito mais grave - Mario Benedetti)

**Presentes, o livro e essa linda poesia  :)


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Olhar para agosto



Para atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia..., ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos da  na costa ao longe. E beijos, muitos...
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto.
Caio Fernando Abreu


**Eu, particularmente, amo agosto. 
Ganhei minha Julia em um lindo dia de agosto.