"O olhar é o personagem principal do mundo de Narciso, central no mito de Édipo e é ele que confere o aspecto cênico da fantasia constituída pelo quadro que cada sujeito pinta para colocar em sua janela do real." (Um olhar a mais - A. Quinet.) O meu olhar... É um prazer ter o seu olhar aqui!
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Sedução
...a voz, o diálogo secreto dos olhares, o perfume, certo modo de andar, com passo solene, ou aquele gesto tão sedutor: positivamente, tudo o que diz respeito ao outro pode ser fonte de sedução quando se põe diante do sujeito como aparência alusiva que remete a significados ocultos que desafiam ser revelados. A sedução, como o amor, vive do segredo, da necessidade sempre renovada de descobrir o sentido fugaz de algo que ainda continua escondido, entre presença e ausência.
Essa alguma coisa que procuramos no outro está nas profundezas do nosso ser e não há introspecção, não há experiência que os coloque em relação com o inconsciente como o amor; só então podemos nos conhecer, e aprendermos a nos confrontar com o lado obscuro da existência. É também um fato doloroso porque, enfim, teremos de dar-nos conta de que o segredo do outro é na realidade o resultado de uma projeção psíquica.
Apesar das ilusões e das desilusões, não se pode deixar de ser fascinado e seduzido; 'o' que nos seduz (ou 'quem' nos seduz) consegue, com sua presença alusiva e inquietante, colocar interrogações vitais, violando a nossa 'inocência'.
Ser seduzido significa perder as próprias certezas e, evidentemente, se não conseguimos fazer-nos seduzir, permanecemos em certo estado de inocência infantil, não tendo mais oportunidade de conhecer realmente a nós mesmos. Eu quisera concluir dizendo que as páginas mais belas de Jung, ou também as páginas mais belas de cada pessoa que consegue exprimir a própria criatividade, decorrem sempre de uma experiência de sedução, que coincide com a tomada de consciência do próprio mundo interior. Um doloroso caminho, um caminho que nos impele à loucura, mas ninguém teria dúvida em escolher entre a inocência e a possibilidade de ser encantado por outro.
A. Carotenuto.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Olhar de (tr)a(i)ção
"Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir,
se convence que os mortais não podem ocultar nenhum segredo.
Aquele que não fala com os lábios, fala com as pontas dos dedos:
nós nos traímos por todos os poros."
Freud
Olhar para eternidade do amor.
Dante se enganou: Paolo e Francesca
Continuariam bem juntinhos no Inferno,
com pecado e tudo
Juntinhos e felizes!
Mas quem sabe se não seria este mesmo o castigo divino?
Um amor que jamais pudesse terminar...
Quintana
domingo, 25 de setembro de 2011
Olhar e(terno)
Mil fragmentos somos,
em jogo misterioso,
aproximamo-nos
e afastamo-nos,
eternamente ...
C. Meireles
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Protocolos do afeto.
Famílias podem ser máquinas de moer gente. Uma das marcas de nossa fragilidade é depender monstruosamente de laços tão determinantes e ao mesmo tempo tão acidentais. O acaso de um orgasmo nos une.
Em meio a jantares e almoços intermináveis, o horror escorre invisível por entre os corpos à mesa. Talvez muitos pais não amem seus filhos e vice-versa. Quem sabe, parte do trabalho da civilização seja esconder esses demônios da dúvida sob o manto de protocolos cotidianos de afeto. Até o darwinismo, uma teoria ácida para muitos, estaria disposta a abençoar esses protocolos com a sacralidade da necessidade da seleção natural. Mesmo ateus, que costumeiramente se acham mais inteligentes e corajosos, tombam diante de tamanho gosto de enxofre. Pergunto-me se grande parte do sofrimento psíquico e moral de muita gente não advém justamente da demanda desses protocolos de afeto. Da obrigação de amar aqueles que vivem com você quando a experiência desse mesmo convívio nos remete a desconfiança, indiferença, abusos, mentiras e mesmo ódio. A horrorosa verdade seria que existem pessoas que não merecem amor? Pelo menos não de você. Mas você é obrigado a amar irmãos, filhos, pais, avós, e similares. E, se não os amar, você adoece. Um sentimento vago de desencontro consigo pode ocorrer se um dia você se perguntar, afinal, por que deve amar alguém que por acaso calhou de ter o mesmo sangue que você? Alguém que é fruto de um ato sexual entre o mesmo homem e a mesma mulher que o geraram em outro ato sexual. Quem sabe a força do "mesmo sangue" seja uma dessas coisas que a experiência moderna esmagou, assim como a crença, para muita gente já vazia, no sobrenatural, na providência divina ou no amor romântico. Sim, o niilismo teria aí uma de suas últimas fronteiras? É comum remeter esse vazio da perda dos vínculos de afeto ao mundo contemporâneo da mercadoria. Apesar de ser verdade que os laços humanos se desfazem sob o peso do mundo do capital, parece-me uma ingenuidade supor que o mal da irrealidade dos afetos seja "culpa" do capital. É fato que a modernidade destrói tudo em nome da liberdade do dinheiro, mas é fato também que não criou a espécie em sua miséria essencial. A melancolia tem sido a verdade do mundo muito antes da invenção do dólar. Por que devo amar alguém apenas porque essa pessoa me carregou em sua barriga por nove meses? Ou porque penetrou, num momento de prazer sexual, a mulher que iria me carregar em sua barriga por nove meses? Por alguma razão, questões como essas parecem mais sagradas do que Deus, o bem e o mal, ou a vida após a morte. Como se elas devessem ser objetos de maior fé do que as religiosas. Ou porque elas garantem a convivência miúda e tão necessária para a estabilização da sociedade. Só monstros colocariam em dúvida tal sacralidade. Mas quantas horas nós passamos vasculhando nossas almas em busca de afetos que, muitas vezes, podem ser o contrário do que deveríamos sentir? Ou não achamos nada além da indiferença? Às vezes, a pergunta pelo amor pode ser apenas um protocolo contra o desespero. Estamos preparados para pôr em dúvida a normalidade sexual no caso de mulheres que gostam de fazer sexo com cachorros, mas não estamos preparados para suspeitar que grande parte de nosso amor familiar não passe de protocolo social. Rapidamente, suspeitaríamos que estamos diante de pessoas doentes e sem vínculos afetivos. Por que, afinal, mulheres homossexuais correm em busca de "misturar" óvulos de uma com a barriga da outra, como se, assim, mimetizassem o coito reprodutivo heterossexual? Será que é amor por uma criança que ainda nem existe ou apenas um desejo secreto de ser "normal"? Ter filhos é prova desse amor ou apenas um impulso cego que se despedaça a medida que os anos passam? Um dos nossos maiores inimigos somos nós mesmos, mais jovens, quando tomamos decisões que somos obrigados a manter no futuro. Com o tempo, algo que nos parecia óbvio se dissolve na violência banal de um dia após o outro. Como que diante de um espelho de bruxa.
(Pondé, Folha, 19/09/2011)
domingo, 18 de setembro de 2011
terça-feira, 13 de setembro de 2011
O olho que tudo vê.
"Na sociedade escópica, o paradoxo do gozo faz com que cada homem queira fazer de seu próximo um ator e um espectador de um espetáculo obsceno e feroz à altura do supereu que vigia e pune.
Diz-se que a "justiça é cega", mas ela não deixa de ver. O supereu é o lugar desse paradoxo da lei: é uma lei que não tem objeto, como nos ensina Kant, mas não deixa de tê-lo, como nos mostrou Lacan. Esse objeto é o objeto (a), que se apresenta ao sujeito como o olhar da vigilância da lei, e como a voz da instância crítica. A lei como máxima pura (S1) e a lei como instância de vigilância e crítica (a) são as duas faces do que o sujeito sofre de sua instância moral. Sua conjunção (S1/a) faz do Outro o Um que o vigia, julga e pune. O objeto presente na lei se exprime, na clínica pelo delírio de observação e, na civilização, pela estrutura "panóptica" da sociedade escópica em que o olhar do Outro faz a lei."
Quinet.
domingo, 11 de setembro de 2011
Olhar para (cria)nça.
Mauricio e seus smurfs
A criança que brinca e o poeta que faz um poema
Estão ambos na mesma idade mágica!
Quintana
sábado, 10 de setembro de 2011
Olhar refletido.
Onde o amor impera, não há desejo de poder;
e onde o poder predomina, há falta de amor.
Um é a sombra do outro.
Jung
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Olhar para cegueira: olhar de Divan.
"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara"
Postagem imperdível do querido amigo Gabriel Divan.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Psicologia 1959 x 2011.
Psicologia 1959 X 2011
Cenário 1: João não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba os colegas.
1959: É mandado à sala da diretoria, fica parado esperando 1 hora, vem o diretor, lhe dá uma bronca descomunal e volta tranquilo à classe.
2011: É mandado ao departamento de psiquiatria, o diagnosticam como hiperativo, com transtornos de ansiedade e déficit de atenção em ADD, o psiquiatra lhe receita Rivotril. Se transforma num Zumbí. Os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz.
Cenário 2: Luis quebra o farol de um carro no seu bairro.
1959: Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras bordoadas no traseiro... A Luis nem lhe passa pela cabeça fazer outra nova "cagada", cresce normalmente, vai à universidade e se transforma num profissional de sucesso.
1959: Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras bordoadas no traseiro... A Luis nem lhe passa pela cabeça fazer outra nova "cagada", cresce normalmente, vai à universidade e se transforma num profissional de sucesso.
2011: Prendem o pai de Luis por maus tratos. O condenam a 5 anos de reclusão e, por 15 anos deve abster-se de ver seu filho. Sem o guia de uma figura paterna, Luis se volta para a droga, delinque e fica preso num presídio especial para adolescentes.
Cenário 3: José cai enquanto corria no pátio do colégio, machuca o joelho. Sua professora Maria, o encontra chorando e o abraça para confortá-lo...
1959: Rapidamente, João se sente melhor e continua brincando.
1959: Rapidamente, João se sente melhor e continua brincando.
2011: A professora Maria é acusada de abuso sexual, condenada a três anos de reclusão. José passa cinco anos de terapia em terapia. Seus pais processam o colégio por negligência e a professora por danos psicológicos, ganhando os dois juízos. Maria renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida...
Cenário 4: Disciplina escolar
1959: Fazíamos bagunça na classe... O professor nos dava umas boa "mijada" e/ou encaminhava para a direção; chegando em casa, nosso velho nos castigava sem piedade.
2011: Fazemos bagunça na classe. O professor nos pede desculpas por repreender-nos e fica com a culpa por fazê-lo . Nosso velho vai até o colégio se queixar do docente e para consolá-lo compra uma moto para o filhinho.
1959: Fazíamos bagunça na classe... O professor nos dava umas boa "mijada" e/ou encaminhava para a direção; chegando em casa, nosso velho nos castigava sem piedade.
2011: Fazemos bagunça na classe. O professor nos pede desculpas por repreender-nos e fica com a culpa por fazê-lo . Nosso velho vai até o colégio se queixar do docente e para consolá-lo compra uma moto para o filhinho.
Cenário 5: Horário de Verão.
1959: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. Não acontece nada.
2011: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. A gente sofre transtornos de sono, depressão, falta de apetite, nas mulheres aparece celulite.
Cenário 6: Fim das férias.
1959: Depois de passar férias com toda a família enfiada num Gordini, após 30 dias de sol na praia, hora de voltar. No dia seguinte se trabalha e tudo bem.
2011: Depois de voltar de Cancún, numa viajem 'all inclusive', terminam as férias e a gente sofre da síndrome do abandono, pânico...
2011: Depois de voltar de Cancún, numa viajem 'all inclusive', terminam as férias e a gente sofre da síndrome do abandono, pânico...
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Olhar estrelas.
Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto às peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor
(Gilberto Gil)
sábado, 3 de setembro de 2011
Louco de palestra.
Ele sempre começa com “Eu gostaria de fazer uma colocação”
Em dezembro passado, o escritor gaúcho André Czarnobai, o Cardoso, publicou um diário na piauí intitulado “Pasfundo calipígia”. Salvo engano, foi a primeira vez em que se utilizou em letra impressa o termo “louco de palestra”. Imediatamente, a expressão ganhou densidade acadêmica e popularizou-se nos redutos universitários nacionais, encorajando loucos latentes e chamando a atenção da saúde pública para o problema.
revistapiaui.estadao.com.br
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Olhar para Érica(s).
Quanto mais eu sinta,
quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso,
dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
F. Pessoa
Olhar ...
Que comece agora.
E que seja permanente essa vontade de ir além daquilo que me espera.
(C. F. Abreu)
Assinar:
Postagens (Atom)