quarta-feira, 17 de março de 2010

Perfeito cavalheiro.


Tinha eu acabado de entrar num táxi quando, antes que este se pusesse em movimento, apareceu um homem moço mas de cabelos já grisalhos e parcos, pôs a cabeça dentro do táxi e disse:
- A Senhora se incomoda de dizer para onde vai?
Respondi-lhe que ia para Copacabana. Então ele pediu num tom implorador: deixe eu entrar que salto antes, a essa hora está difícil de encontrar táxi. Eu disse que ele entrasse. Entrou e sentou-se ao lado do chofer. E começou, virado para trás: porque ele era casado, porque era muito feliz, porque não se incomodava que sua mulher envelhecesse, porque era sempre a mulher amada, porque hoje lhe mandara rosas sem ser aniversário de nada, porque... Bem - pensei- este engana sua mulher fartamente.
Eu já estava enjoada de tanto amor conjugal e por causa também do tom ligeiramente fora de foco que ele usava nas suas mentiras não sei por que necessárias. Foi quando meu passageiro disse: eu fico aqui. O táxi parou, ele desceu, botou a cabeça dentro da janela e disse para o meu espanto ofendido:
- A senhora é um perfeito cavalheiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário