quarta-feira, 24 de março de 2010

A sabedoria do Salgueiro.

"Opor à força não é a solução, porque a força só pode ser vencida por uma força maior. Então, o que fazer?
Opor a razão uma outra razão mais forte que vencerá nossas razões. Então, o que fazer?
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Os galhos da cerejeira se partem sob o peso da neve.
Os galhos flexíveis do Salgueiro se inclinam sob o peso da neve; ao chegarem ao solo, eles se libertam suavemente da sua carga e, então, voltam aos seus lugares, intactos.
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Saber se inclinar para melhor se endireitar, saber se inclinar para permanecer de pé. Vencer o duro e o sólido, ser flexível e tenro como uma água viva.
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Chegar aqui não é se estreitar, é partir, é adquirir uma dimensão maior. É um crescimento...e aí...manter-se precisamente, ternamente, imóvel.
A postura deve ser ereta, precisa, clara, mas não é a precisão e a retidão dos bancos ou dos postes.
A retidão do Salgueiro é delicada e vibrante.
Firme e fluida, precisa e branda. Sua mobilidade não pode estar terminada. A árvore não está encerrada em seus limites. Por todos os poros, ela desposa o Invisível que a envolve, o Infinito que cunha sua casca. O Ser, a Vida, o misterioso Amante que incessantemente vem se misturar à sua seiva, ao seu sangue...
Tudo isso deve ser vivido, no âmago da postura, em cada movimento.
O primeiro passo é o enraizamento...
Encontrar o eixo imóvel, que nos permitirá abandonarmos-nos aos movimentos do Inspirar e do Expirar.
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Caminhar a passo de raízes, nem ao longo, nem ao largo.
Caminhar em profundidade, em direção às alturas.
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Temos as raízes que podemos ter...mas isso também depende do terreno onde as mergulhamos
Alguns têm raízes plantadas em vaso: a árvore será pequena.
Estas raízes estão condicionadas, domesticadas; o terreno herdado é restrito; pertencem à linhagem das estufas, aos lugares fechados, nada de grandes ventos, nada de inverno...Tornam-se, então, árvore comestível, árvore podada: não passam de um produto do seu meio.
O homem só é grande quando sente em suas raízes ter direito à terra inteira.
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É preciso sentir seus passos mais que o espaço das suas próprias pegadas..."
(Jean~Yves Leloup)

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