terça-feira, 14 de setembro de 2010

Olhar para Mauricio

Mauricio (ele me proibiu de chamá-lo de Mauricinho) tem sentido nossa distância mais que todos os outros meses. Nossa separação tem sido um parto. Uma dor silenciosa.

No abraço do adeus fazemos um pacto silencioso de sobrevivermos até o nosso próximo encontro.

Sabemos que nossa separação semanal é necessária e, em sua generosidade, ele sempre diz que ficará bem. Me doa um cheirinho, para que minha sobrevivência seja alimentada. E em dias de saudade pura o seu cheirinho é meu colo.

De uns meses pra cá Mauricio tem mudado o tom de voz . As meninas querem morrer, imitam, o chamam de mimado, mas ele não se importa.

Neste final de semana eu fui interpelá-lo sobre a tal mudança na voz e vi que seus olhinhos se encheram de lágrimas. Eu o abracei e disse que estava tudo bem, que ele poderia falar como quisesse.

Hoje, ao ler uma crônica do Carpinejar, pude entender, ou melhor, ouvir a sinfonia que meu guri fez pra mim.

"...os filhos estão nos oferecendo aulas de graça (força de expressão; trata-se de fiado, um dia eles cobram).
Vicente me prepara para ser um bom marido. Com seus seis anos. E sua timidez carismática.

Não dependo de muita concentração. É seguir seus gestos. Virar um mímico em minha casa. Um clown de suas pausas e feições.

Eu me preparei para assistir ao jogo do meu time no estádio. Fazia frio, a noite ia alta e teria estrada pela frente. Convidei Vicente, com a certeza de que aceitaria no ato, logo agradeceria e correria ao quarto para se fardar. Porém, ele me questionou:

_ Que horas vou voltar?

_ 1 h, acho.

_ Desculpa, pai. Mas vou pegar a mãe dormindo, e quero ver sua boniteza acordada.

Notei que ele roubou minha fala. Era a resposta perfeita de marido. A frase consagradora. Compensaria uma louça empilhada, uma toalha molhada na cama, um pote de xampu virado, divorciado da tampa, o azedume no almoço da sogra, a lâmpada que não troquei na área de serviço. O filho me substituía enxergando a minha demora. Se sua mãe não estivesse escutando, cometeria um plágio sem pudor.

Ao sair, enxergo o guri no quarto, com uma vozinha esquisita, abafada, de marionete. Intuí que estivesse brincando com seus bonecos, falando por eles, como criança gosta de fazer para povoar a solidão. Mas conversava com sua mãe. Interrompi.

-Que voz é essa, Vicente?

- Voz? A minha!

- Não, nunca usou essa voz comigo. É uma vozinha dodói, diferente.

.É a voz que uso com a mamãe. Tem uma voz para cada amor.”

          Obrigada meu amor!

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