terça-feira, 24 de agosto de 2010

Olhar balzaquiano.


" Tome a mesma moça aos 20 anos e aos 30 anos. No segundo momento será umas sete ou oito vezes mais interessante, sedutora e irresistível do que no primeiro. Ela perde o frescor juvenil, é verdade. Mas também o ar inseguro de quem ainda não sabe direito o quer da vida, de si mesmo e de um homem. Não sustenta mais aquele ar ingênuo, uma característica sexy da mulher de 20. Só que isso é compensado por outros atributos encantadores de que se reveste a mulher de 30.
Como se conhece melhor, ela é muito mais autêntica, centrada, certeira - no trato consigo mesma e com seu homem. Aos 30, a mulher tem uma relação mais saudável com o próprio corpo e orgulho da sua vagina, das suas carnes sinuosas, do seu cheiro cítrico. Não briga mais com nada disso. Na verdade, ela quer brigar o menos possível. Está interessada em absorver do mundo o que lhe parecer justo e útil, ignorando o que for feio e baixo-astral. Quer é ser feliz. Se o seu homem não gostar dela do jeito que é, que vá procurar outra. Ela só quer quem a mereça.
Aos 30 anos, a mulher sabe se vestir. Domina a arte de valorizar os pontos fortes e disfarçar o que não interessa mostrar. Sabe escolher sapatos e acessórios, tecidos e decotes, maquiagem e corte de cabelo. Gasta mais porque tem mais dinheiro. Mas, sobretudo, gasta melhor. E tem gestos mais delicados e elegantes. Aos 30, ela carrega um olhar muito mais matador quando interessa matar. E finge indiferença com mais competência quando interessa repelir.
Ela não é bobinha. Não que fique menos inconstante. Mulher que é mulher, se pudesse, não vestiria duas vezes a mesma roupa nem acordaria dois dias seguidos com o mesmo humor. Mas, aos 30, ela já sabe lidar melhor com esse aspecto peculiar da sua condição feminina. E poupa (exceto quando não quer) o seu homem desses altos e baixos hormonais que aos 20 a atingiram - e quem mais estivesse por perto - irremediavelmente.
Aos 20, a mulher têm espinhas. Aos 30, tem pintas, encantadoras trilhas de pintas. Que só sabem mesmo onde terminam uns poucos e sortudos escolhidos. Sim, aos 20 a mulher é escolhida. Aos 30, é ela quem escolhe. E não veste mais calcinhas que não lhe favorecem. Só usa lingeries com altíssimo poder de fogo. Também aprende a se perfumar na dose certa, com a fragância exata. a mulher aos 30, mais do que aos 20, cheira bem, dá gosto de olhar, captura os sentidos, provoca fome.
Aos 30, ela é mais natural, sábia e serena. Menos ansiosa, menos estabanada. Até seus dentes parecem mais claros. Seus lábios, mais reluzentes. Sua saliva, mais potável. E o brilho da pele não é o da oleosidade dos 20 anos, mas pura luminosidade. Aos 20, ela rói as unhas. Aos 30, constrói para si mãos plásticas e perfeitas. Ainda desenvolve um toque ao mesmo tempo firme e suave. Ocorre algo parecido com os pés, que atingem uma exatidão estética insuperável. Acontece alguma coisa também com os cílios, o desenho das sobrancelhas, o jeito do olhar. Fica tudo mais glamuroso, mais sexualmente arguto.
Aos 30, quando ousa, no que quer que seja, a mulher costuma acertar em cheio. No jogo com os homens, já aprendeu a atuar no contra-ataque. Quando dá o bote, é para liquidar a fatura. Ela sabe dominar seu parceiro sem que ele se sinta dominado. Mostra sua força na hora certa e de modo sutil. Não para exibir poder, mas para resolver tudo a seu favor antes de chegar ao ponto de precisar exibi-lo. Consegue o que pretende sem confrontos inúteis. Sabiamente, goza das prerrogativas da condição feminina sem engolir sapos supostamente decorrentes do fato de ser mulher.
É precisamente aos 30 que o jogo começa a ficar bom"
(A. Silva)

3 comentários:

  1. Texto maravilhosos tenho lido aqui.
    Sinto , ao entrar no blog , a maior intimidade ou interesse com esse layout do fotógrafo capturando também o nosso olhar. Perfeito!!!!!

    Acabo por me lembrar da música de Roberto Carlos sobre a mulher de 40...e concordo que o "jogo continua a ficar bom" ....

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  2. Leila, tu és uma querida.
    Conta a lenda que os índios não gostam de fotos. Temem que suas almas sejam roubadas.
    Talvez seja esse meu propósito: roubar um pouco da docilidade da alma de vcs.
    E não tenho dúvida que o jogo continua a ficar bom...rs
    bjo querida

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  3. Minha impressão ao ver fotos ou ao ser fotografada é como colocar migalhinhas de pão no caminho de "João e Maria" ...poder voltar.

    registrar e não deixar passar é como não passar também e pertencer na linha do tempo aquela história

    Teu olhar já pertence ao que considero bom no meu olhar desse tempo

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