quarta-feira, 28 de abril de 2010

Olhar para o (a)mor...


Te mo
Te(a)mo

Um parêntese tão difícil de ser colocado do lado de dentro, sentido na sua plenitude, vivenciado sem reservas.

Amar...

(eu,você), o parêntese como reflexo, dentro e fora, imagem sobreposta, espelho – minha imagem refletida na sua.

Tarefa complexa.

Bastaria amar, sem parêntese, sem fusão.

Como ser um em dois corpos? Muito além da lei da Física, mal conseguimos lidar com nossos conflitos pessoais, nossos buracos , nossas angústias, como suportar dores outras?

Mas e os felizes para sempre?

Te mo o enfim sós.
Não ativar o crescimento, nos tornarmos amargos, ávidos, estéreis.

A vida, é para partilhar. Que o parêntese do (a)mor venha do acolhimento, do calor, da tranquilidade. Muito além do visível do espelho, para além das aparências.

“Era um homem, um homem comum, que um comum destino parecia controlar inteiramente.
Um dia sentiu um incômodo nos dois ombros, distensão muscular, má posição no trabalho...Foi piorando e resolveu olhar-se no espelho, de lado, inteiro e nu depois do banho: não havia dúvida, duas saliências oblíquas apareciam em sua pele abaixo dos ombros. Teve medo mas decidiu não comentar com ninguém.
Foi observando aquilo crescer e pensava:
Nem adianta ir ao médico, porque se for um tumor (ou dois) não tem remédio, é melhor morrer inteiro do que cortado.
Certa vez, quando se masturbava no banheiro, na hora do prazer sentiu que elas enfim se lançavam de suas costas, e viu-se enfeitado com elas, desdobradas como as asas de um cisne que apenas tivesse dormido e, acordando, se espojasse sobre as águas.
Ficou ali, nu diante do espelho, estarrecido.
Agora ele não era apenas um homem comum com contas a pagar, família, filhos, horários a cumprir: era um homem com um encantamento.
Eram asas muito práticas aquelas, porque desde que usasse camisa um pouco larga acomodavam-se maravilhosamente debaixo das roupas. Em certas noites, quando todos dormiam, ele saía para o terraço, tirava a roupa e varava os ares.
Sua mulher notou alguma coisa diferente no corpo de seu marido. Estava ficando curvado, tantas horas na mesa de trabalho. Nada mais que isso.
As coisas se complicaram quando, já habituado à sua nova condição, o homem-anjo olhou em torno e, sendo ainda apenas um homem com asas, sentiu-se muito só. E começou a pensar nisso. E olhou em torno e se apaixonou.
Na primeira noite com sua amante, esqueceu o problema, tirou a roupa toda, e quando começava a apalpar-lher as costas o par de asas se abriu, arqueou-se as pontas bem no alto por cima dele, na hora do supremo prazer.
Mas essa mulher/amante não se assustou, não se afastou. Apertou-se mais a ele e dizia: vem comigo, vem comigo...”
(L.Luft)

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