domingo, 2 de maio de 2010

Olhar para dentro.


Fui assistir Alice no país das maravilhas e, apesar das críticas lidas, eu tinha certeza de que sairia dali completamente extasiada. Bingo!
Lembro-me da primeira vez em que vi Alice, em desenho animado. Eu deveria ter 9 anos e fiquei paralisada com a menina que crescia e diminuía, com o sorriso do gato...
Recentemente, com meus estudos sobre crianças vitimizadas, me deparei com Alice novamente. Fotos de Alice em poses sensuais, poemas guardados, insinuam que Lewis Carroll seria um pedófilo, mas isso não interessa aqui.
Bueno, o filme é literalmente um mergulho.
Há várias cenas com personagens, diálogos, simbolismos, muita coisa para ser pensada.
Jung e sua abordagem simbólica me vieram à cabeça, mas não tenho propriedade para falar de Jung.
Sei que algumas pessoas não conseguirão ver através da minha luneta, mas várias passagens me tocaram - ainda estou refletindo, digerindo, vivenciando Alice!
Nas primeiras cenas Alice foge de um monstro que, logo em seguida, tem o seu olho arrancado - a importância do olhar. Sem os olhos o monstro não poderá fazer mal algum. Em outra cena, Alice devolve "o olho" ao monstro - a importância da visão. Com os olhos devolvidos, o monstro têm a visão. Os olhares se cruzam - o olhar no olhar - e as diferenças transformam-se. Ver o invisível. O coração no coração.
Sonhos, expectativas, o tamanho do nosso EU no mundo.
Ficamos pequenos em muitas situações e grandes demais em outras.
As dúvidas, eternas, permeando nosso caminho, nos deixando inseguros.
Alice vê nos desenhos que ela é a única que pode vencer o dragão, mas não acredita. Teme, sofre, nega e todos ao seu redor começam a acreditar que ela não é a Alice verdadeira.
Das coisas impossíveis...
Nossas limitações, medos que imaginamos, que criamos e alimentamos.
No diálogo com a lagarta azul vemos Alice se descobrindo. No primeiro contato ela não sabe nem quem é ela mesma e ao final, vemos Alice sabendo seu lugar no mundo.
"Esta vida termina aqui!"- diz a lagarta, tecendo seu casulo.
A morte como reconstrução. Para nos encontrarmos é preciso tomar nossas decisões, caminhar, morrer lentamente, construir seu casulo, para pode renascer. Mudar de casa ou seremos lagartas para sempre.
A rainha branca nos resgata o feminino. O dragão da rainha vermelha, usando todo simbolismo do masculino, diz que o inimigo não é Alice e sim à espada. Espada que insistimos em carregar.
Ao final, voltamos para "as coisas impossíveis."
Tudo que sabotamos com nossa descrença, com nossos medos.
“Pensar em seis coisas impossíveis antes do café da manhã”. E Alice, com maestria, nos ensina que o impossível é possível quando acreditamos de verdade.
Pensar no café da manhã - dia por dia, um de cada vez e ir realizando, possibilitando que as coisas possíveis tornem-se possíveis. Devagar, ao seu tempo, sem medo, pressa, defesas.
Alice nos dá uma aula de compreensão, um mergulho para dentro de si. Assumirmos o tamanho ideal, nem mais e nem menos. O tamanho ideal do nosso EU.
Acreditarmos mais, temer menos, tecer o casulo, virar borboleta.
Seguir, sem respostas para todas as perguntas.
Afinal não é preciso saber por que um corvo se parece com uma escrivaninha.
Há perguntas que não têm repostas.
E você, mergulharia em si mesmo?

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