domingo, 19 de dezembro de 2010

Olhar para Eucanaã Ferraz.



Conheci os livros do Eucanaã Ferraz ao acaso. Um feliz e doce acaso.
'Eucanaã Ferraz escreveu, entre outros, os livros de poemas Cinemateca (Companhia das Letras, 2008), Rua do mundo (Companhia das Letras, 2004), publicado em Portugal (Quasi, 2006), Desassombro (7 Letras, 2002, prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional), publicado em Portugal (Quasi, 2001) e Martelo (Sette Letras, 1997).
Organizou os livros Letra só, com letras de Caetano Veloso (Companhia das Letras, 2003), publicado em Portugal (Quasi, 2002); Poesia completa e prosa de Vinicius de Moraes (Nova Aguilar, 2004), a antologia Veneno antimonotonia — Os melhores poemas e canções contra o tédio (Objetiva, 2005) e O mundo não é chato, com textos em prosa de Caetano Veloso (Companhia das Letras, 2005). Publicou ainda, na coleção Folha Explica, o volume Vinicius de Moraes (Publifolha, 2006).
Edita, com André Vallias, a revista on line Errática (www.erratica.com.br). É professor de literatura brasileira na faculdade de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ'




Mais doce



Confesso: não pude desamar de ti.

Tornei-me, então, tua mãe.


Afinal, não serias o meu homem,

eu sabia. Não vacilei, e dedico-me


à condição mais intestina,

mais doce – a de quem cozinha,


cose, espera, cala, tece,

aconselha, espera, vela


(mesmo que não, é como se fosse),

à condição de quem vê passar



o tempo no cabelo, nos gestos,

nas histórias, nos amigos, nos dentes

 

do seu pequeno príncipe, do seu dolorido,

do seu príncipe feliz.


Porque não me querias como homem,

porque não poderia ser teu pai,

 



restou-me não ser menos que este amor

que segue ao teu lado



mesmo quando é tão distante teu caminho,

teu silêncio, teu passo rápido, teu sonho.



Choro,

que o destino das mães é sempre triste.



Porque é triste não poder ser

a mulher do seu menino.


(Rua do mundo - Eucanaã Ferraz)










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