segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ganhei de presente...

O MEU AMOR


Ar que se acaba,
E toda lágrima é pouca e já não há mais lágrima,
Nem moribundo, mais suicida pelo tempo,
O que tenho é espera,
Covarde preguiça de morrer.

Nem sei se como sonho,
Ou raio ou corte ou dor,
Sei que, repentino e forte, já rio e gosto,
Porque sei, é você que vem, e gozo.

Assim é o meu amor, feito de paixão, todo desejo,
Que, à sua presença, faz arder e reviver,
Sorriso tolo e olhar de súplica,
Aguardando seu soro e da aproximação quase o choro,
Até se fazer matéria, de cheiro e gosto.

Nem mais lembro do que era entrega,
Quase cuspo coração afora,
Vício a saciar é prenúncio de prazer.

Vem, imensa e rude, atropelar minhas regras,
Desordena, se espalhando sobre mim,
Desprezando minha razão,
Refazendo meus planos,
Toda destino, definitiva pelo tempo que quiser.

Se me quer pleno ou rasgado,
Se me dá ou não seu corpo,
Se me sorri ou ri,
Se quer gozo ou recordar prazer só seu,
Sabe que, presa sua e preso ao que lhe preza,
Encontro, breve, no êxtase, motivo e fim.

Deixo-me agora só a usar sua imagem e voz,
Como encanto e afago,
E já me deformo, insano em guerreiro,
Querendo, de si, você,
Feliz já se puder querer.

Se vejo que veio e vai,
Sigo com o olhar seus passos. a suspirar,
E assim me fez seu homem,
E me bastou como mulher.

Mas, se quer me abater,
Então se multiplica e é todas,
Revolvendo minhas idéias,
Louca, ousada e genial;
Reparando meus conceitos,
Na revolução de fatos e mitos com que me confunde;
Destruindo minha segurança,
E novos passos tenho a testar.

Rendo-me, sei disso, à pobreza de meus sonhos e pesares.
Não é mais de alma que cogito.
Se fartou meu coração,
De amar, com tanto amor,
Vejo-me virgem à sua chegada,
Sinto a violência de tanto gostar.

Como pude, por longa vida, acreditar,
Que amor me compunha então,
Se me faz, só ao sorrir,
Ver que pouco sou para suportar,
Num corpo pequeno, todo paixão,
É no que me transformou.

E se é amor tanto pensar, tanto querer, tanto buscar,
Faz-me assim compreender,
Toda dor e sofrimento, se distante de você,
São retratos do inverso, de todo amor que a si professo.

Poderia ainda revelar seus infinitos segredos,
Que seu toque e seu calor me abrasam, me destroem,
Na surpresa de aceitar mesmo a morte a saciar.

É assim que a vejo e sinto,
É assim que a amo e venero,
É assim que me desespero,
Pois que tanto sentimento,
Faz-se vício, faz-me seu.

Nem limite a seu encanto me é dado pretender,
Sua alma é viajante,
Busca o novo e o desafio,
Não se prende a territórios,
Cega a laços e tradições,
Faz as regras, tenta, experimenta.

E passeia, linda e leve, desfrutando todo fruto,
Livre como um cão de rua, mas, cuidado, é só disfarce,
Soberana, bem se sabe, faz do mundo seu reinado,
Brinca e cansa, qual criança,
E retorna ao seu berço,
Se seu leito, mais macio,
Num instante, de momento,
Se fizer de lhe agradar.

É de si, seu jeito seu, e se é minha é que me quer,
E me tem de qualquer modo,
Todo seu, entregue e posto,
Por seu gosto a suspirar.
Faz-me assim completo amante,
Em meus braços, ou a voar,
Não conjugo possuir, algo mais do que estar,
Pois que sei de seus limites, tão distantes, seu olhar.

É assim a minha Luz, definindo os meus caminhos,
E é Luz se o que persigo, o que quero alcançar,
Luz, é luz, o tempo todo, que me aquece e faz cegar.
Quando longe, tudo escuro, é em mim só em lembrança,
Não se perde, nem retrai,
Antes pulsa, sempre ardente, brilho interno, brilho intenso,
Pois me tem, Luz da minha vida,
Feito seu, eternamente, a si cativo, seu refém.

Não pretende a divindade, não rejeita assim o mal,
O que diz é o que sabe, vive e toca,
Rebelde ao alheio pensar.
Faz então as suas leis, um império sedutor,
Em que fico a habitar, fiel e mudo, a venerar.

Sei que não é só divina.
Sei que elege os seus pecados,
Ilumina e prende, sacia e suga,
Mascara a dor, se engana, ingênua,
Afronta seus desejos e se entrega sem pudor.
Posso ver carne em sua alma,
Alma tem, mesmo sem corpo.

Pois assim veio e se assentou,
Fez-me seu, seu servo, fez de si minha vida.
Cruel e generosa, serena e impulsiva,
Faz da dor o amor, do amor, o desejo, que se torna paixão, daí num louco amor, então tornado dor, que se expressa em mais amor.

Veio, e vem, bem sei, e se esquiva de explicações e padrões,
E ficou e ficará, já conquistado este reino,
Absoluta e eterna, fingindo-se menor, escondendo e exibindo toda graça e manha,
Senhora dos dias, dos sonhos e meu mundo,
Que se põe, para meu prazer, a dominar.

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