quarta-feira, 21 de julho de 2010

Olhar o caminho.


CANÇÃO DE MIM MESMO

EU CELEBRO a mim mesmo,
E o que eu assumo você vai assumir,
Pois cada átomo que pertence a mim pertence a
você.

Vadio e convido minha alma,
Me deito e vadio à vontade .... observando uma
lâmina de grama do verão.

Casas e quartos se enchem de perfumes .... as
estantes estão entulhadas de perfumes,
Respiro o aroma eu mesmo, e gosto e o
reconheço,
Sua destilação poderia me intoxicar também,
mas não deixo.

A atmosfera não é nenhum perfume .... não tem
gosto de destilação .... é inodoro,
É pra minha boca apenas e pra sempre .... estou
apaixonado por ela,
Vou até a margem junto à mata sem disfarces e
pelado,
Louco pra que ela faça contato comigo.

A fumaça de minha própria respiração,
Ecos, ondulações, zunzuns e sussurros .... raiz
de amaranto, fio de seda, forquilha e videira,
Minha respiração minha inspiração .... a batida
do meu coração .... passagem de sangue e
ar por meus pulmões,
O aroma das folhas verdes e das folhas secas,
da praia e das rochas marinhas de cores
escuras, e do feno na tulha,
O som da palavras bafejadas por minha voz ....
palavras disparadas nos redemoinhos do
vento,
Uns beijos de leve .... alguns agarros .... o
afago dos braços,
Jogo de luz e sombra nas árvores enquanto
oscilam seus galhos sutis,
Delícia de estar só ou no agito das ruas, ou pelos
campos e encostas de colina,
Sensação de bem-estar .... apito do meio-dia
.... a canção de mim mesmo se erguendo
da cama e cruzando com o sol.

Uma criança disse, O que é a relva? trazendo um
tufo em suas mãos;
O que dizer a ela ?.... sei tanto quanto ela o que
é a relva.

Vai ver é a bandeira do meu estado de espírito,
tecida de uma substância de esperança verde.
Vai ver é o lenço do Senhor,
Um presente perfumado e o lembrete derrubado
por querer,
Com o nome do dono bordado num canto, pra que possamos ver e examinar, e dizer
É seu ?

E sou o poeta da alma.

Os prazeres do céu estão comigo, os pesares do
inferno estão comigo,
Aqueles, enxerto e faço crescer em mim mesmo
.... estes, traduzo numa nova língua.

Sou o poeta da mulher tanto quanto do homem,
E digo que é tão bom ser mulher quanto ser
homem,
E digo que não há nada maior que a mãe dos
homens.

Vadio uma jornada perpétua,
Meus sinais são uma capa de chuva e sapatos
confortáveis e um cajado arrancado
do mato ;
Nenhum amigo fica confortável em minha
cadeira,
Não tenho cátedra, igreja, nem filosofia;
Não conduzo ninguém à mesa de jantar ou à
biblioteca ou à bolsa de valores,
Mas conduzo a uma colina cada homem e mulher
entre vocês,
Minha mão esquerda enlaça sua cintura,
Minha mão direita aponta paisagens de
continentes, e a estrada pública.

Nem eu nem ninguém vai percorrer essa estrada
pra você,
Você tem que percorrê-la sozinho.

Não é tão longe assim .... está ao seu alcance,
Talvez você tenha andado nela a vida toda e não
sabia,
Talvez a estrada esteja em toda parte sobre a
água e sobre a terra.

Pegue sua bagagem, eu pego a minha, vamos em
frente;
Toparemos com cidades maravilhosas e nações
livres no caminho.

Se você se cansar, entrega os fardos, descansa a
mão macia em meu quadril,
E quando for a hora você fará o mesmo por mim;
Pois depois de partir não vamos mais parar.

(Trechos de Folhas de Relva - Walt Whiltman. Tradução de Rodrigo Garcia Lopes)

Nenhum comentário:

Postar um comentário