"Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de garndes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de voos encantados!...
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos... E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
(A rua dos cataventos)
"A rua do diáfano e sagrado espaço que Quintana criou na poesia brasileira, como Manuel Bandeira criou a sua Pasárgada, a utopia, sem a qual não vivemos. Por ser a forma de tramar o mundo justo e humano. Se não pela realidade, às vezes tão surrada, ao menos pela vasta e prazerosa imaginação. Porque engredamos a memória e a memória nos engreda. Até o que esquecimento nos esqueça. Falávamos das ânsias quintanianas de levitação, tão singular no talvez mais belo soneto desse espetacular livro. E funciona com espelho convexo, os dois quartetos de um lado e os dois tercetos de outro, como se o seu reflexo. O espelho de Lewis Carroll - uma face diante de outra: "Se você acreditar em mim, acreditarei em você. Negócio fechado?".E não é por acaso que seu futuro livro se chamaria Espelho Mágico (1951).
(Cadernos da Literatura Brasileira - Mário Quintana)
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