quarta-feira, 9 de junho de 2010

Olhar de nunca e sempre.


Poesia a minha velha amiga…

Eu entrego-lhe tudo a que os outros não dão importância nenhuma…
a saber: o silêncio dos velhos corredores,
uma esquina,
uma lua (porque há muitas, muitas luas…)
O primeiro olhar daquela primeira namorada que ainda ilumina,
ó alma como uma tênue luz de lamparina, a tua câmera de horrores.
E os grilos? Não estão ouvindo, lá fora, os grilos?
Sim, os grilos…Os grilos são os poetas mortos.
Entrego-lhe grilos aos milhões
um lápis verde,
um retrato amarelecido,
um velho ovo de costura,
os teus pecados,
as reivindicações,
as explicações –
menos o dar de ombros e
os risos contidos
mas todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte
as explosões de cólera
o ranger de dentes
as alegrias agudas
até o grito
a dança dos ossos…
Pois bem
às vezes
de tudo quanto lhe entrego,
a Poesia faz uma coisa que parece que nada tem a ver com os ingredientes
mas que tem por isso mesmo um sabor total:
eternamente esse gosto de nunca e de sempre.
(Quintana)

2 comentários:

  1. Você me fez lembrar meus tempos de colégio,
    em que passava horas decorando poesias para recitar no Sarau.
    Adorei seu BLOG, de verdade!
    Parabéns
    Já conquistou mais um leitor assíduo ;)

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  2. Que bom Paulo, fico feliz!
    bjo enorme pra ti

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