terça-feira, 15 de junho de 2010

Olhar para bono, de morango!


Fui ver um ballet no dia dos namorados. Na realidade estava tão chato que fui embora no meio do espetáculo.
Como estava em Curitiba, e após ler várias postagens de blogs queridos sobre tal data, comecei a observar os casais chegando ao hotel.
Velinhas em formato de coração, cheiro bom no ar, casais tão diferentes, todos no ritual capitalista do amor.
O dia para amar!
Talvez aos 20 anos ainda se possa dar asas para amores arrebatadores, mas peço que veja tal data com o olhar de tantos casais que comemoravam aquele dia. Certo que, para muitos deles, a data comemorada foi “imposição”, o jantar romântico ou burocrático, como disse Paulo, em seu blog, foi empurrado guela abaixo. Mas pensei que cada um sabe de si e me senti solidária com aquelas mulheres bem vestidas, esperando flores, declarações, com aqueles homens arrumados, com flores nos braços. Fui solidária com o amor.
Não tive coragem de adverti-los, como não tive coragem de dizer para a senhora que sentava ao meu lado no teatro, que eu estava indo embora porque estava odiando o ballet.
Não podia dizer para aqueles casais que eles poderiam se machucar, sofrer, que era preciso sair dos moldes, dos padrões, do consumismo da data.
Meu olhar para o amor hoje é outro. Já precisei mudar de foco tantas vezes e, assim, eu era solidária a cada casal que passava por mim. Dava um sorriso como se eu desse um carinho para cada um que cruzasse no corredor do hotel.
De volta ao teatro, me acomodo na poltrona. Gosto do desconhecido e passo a observar as pessoas ao meu redor.
Um casal chegando me chama a atenção. Observo ele fazendo graça para sua amada.
A senhora ao meu lado também observa, nosso olhar se confunde e ela me sorri.
O casal se aninha e a senhora se aproxima deles e diz:
“Ele é um anjo que caiu em seu colo!”
A jovem sorri e concorda. Talvez a vida já tenha dado a ela a sabedoria de reconhecer anjos.
O rapaz, na inquietude de sua juventude, indaga a senhora: “ E o que devo fazer?”
Ela sorri e lhe responde: “Nada, sente e aproveite!”.
Sorrio para ela e passo a pensar no sábio conselho daquela senhora.
É preciso reconhecer os (poucos) anjos, amores possíveis, que cruzam nosso caminho.
Já parou para pensar nas poucas pessoas que você conseguiu verdadeiramente estar ao lado?
Não falo de quantos homens ou mulheres você já teve e sim de quantos homens ou mulheres você conseguiu estar ao lado e ser você mesmo?
Aposto minha alma que você não encherá uma mão!
Podemos ter uma pessoa diferente por dia ao nosso lado, trepar, beijar cada dia um, mas estar ao lado é para poucos.
E nem falo de amor, porque muitos me achariam romântica. Falo de ficar bem, de caminhar ao lado (diferente de fundir-se, como ensinou Albano) e tantas outras pequenas grandes trocas.
Nada de pessoas líquidas!
Difícil essa arte de caminhar, é preciso maturidade, saber reconhecer, estar no momento certo da vida e quase sempre isso nunca acontece. Por vezes, somente lá na frente é conseguiremos reconhecer o valor de alguma pessoa especial na nossa trajetória.
Passo a pensar na pergunta do enamorado para aquela senhora e penso nos moldes que temos que seguir.
Tenho pena de quem não tem um amor. Hoje em dia há tantas regras que se eu precisasse vivenciá-las me perderia.
Não pode transar na primeira vez, tem que ser comedida, tem que ser durão para os amigos, não pode ligar, o homem não pode dizer não, a mulher não pode dizer todos os sim que tem vontade, tem que ser príncipe e machão, princesa e puta e assim vai.
Uma geração de garanhões nunca vista, uma geração de putas que não sabem o que é trepar, uma geração de Peter Pans, uma geração de mulheres com paus enormes.
Se entregar? De maneira alguma!!!!
Siga os moldes ou será descartado.
Não deixe ele ou ela perceber que você está muito ligado senão... Senão o que criatura?
Porra, não dá para você ser você e só? Pare com esses moldes todos, com suas palavras pensadas, ensaiadas, com seus discursos pré-fabricados. Não dá para voltarmos a ser homem e mulher apenas? Sem jogo, perdedores ou ganhadores.
Qualquer que seja seu envolvimento, por menor que possa ser, no final você sairá machucado, no mínimo arranhado. E se é para se machucar prefira se esborrachar. PT total!!
Cazuza já dizia: "... amar é abanar o rabo, lamber e dar a pata!"
Tá com medo do quê?
Medo de se expor? Medo de viver coisas boas?
Melhor seguir os padrões, usar o outro para nada além de um gozo, dar nomes, arrumar o príncipe ou a princesa encantada, noivar, casar, construir uma família margarina...
Cara amiga ou amigo, pra se enganar, melhor se masturbar. Não custa nada, não exige envolvimento, não precisa aguentar fulano ou sicrano para o resto da vida e o prazer é garantido, coisa que não acontece sempre na entrega.
Pode ser que eu esteja errada, não sou padrão pra ninguém. É que pra mim entrega é entrega, seja ela casamento, tico-tico no fubá ou sei lá o que.
Foda-se se ele(a) não ligar, se ele(a) vai se achar a última bolacha do pacote, foda-se se daqui um tempo não der certo. Tanta coisa não dá certo na vida. Temos que replanejar os caminhos tantas vezes.
Já terá dado certo o tempo que durou e isso existirá para sempre em algum lugar dentro de você. É o que basta!
Melhor assim, do que sentir amargura, arrependimento do que poderia ter feito ou sido para o outro.
Pule e deixe pra ver o que quebrou, o quanto tá sangrando, quando der de cara com o chão. Talvez haja uma cama elástica te esperando lá embaixo e você não bata diretamente no chão. Sim, os amores podem ser amortecidos da queda e sobreviverem. E pode ser que você se quebre todo(a), fique engessado(a) por meses, anos, mas sobreviverá. A gente sempre sobrevive!!
Por que insistimos em indagar a vida sempre? Por que não aproveitar somente o conselho daquela senhora?
Sente no colo e APROVEITE!!
Por que se preocupar com o olhar do vizinho, comparar gramas, seguir modelos de jardins? O seu jardim, ao final de tudo, só caberá a você. Você com todas as ervas daninhas e flores que conseguiu cultivar no seu pequeno pedaço de terra.
Ao final, o que importa mesmo é o cheiro de vocês, o silêncio dos corpos, o som dos corações batendo no mesmo compasso, os desentendimentos e entendimentos de vocês, o toque da pele, a cumplicidade de olhares, do carinho exato, a paz que se aloja dentro de cada um. O resto do mundo é descartável.
Não importa se dormem de conchinha, se você ou ela ligou, que nome tem o relacionamento de vocês, se comemoram ou não o dia dos namorados, se tem 10 ou 80 anos, o que importa de verdade é apenas você e ela.
E, se ainda assim ele ou ela se achar a última bolacha do pacote, que esta seja ao menos uma Bono de morango! (minha bolacha preferida :))

Um comentário:

  1. Ó só, caí aqui por acaso, então peço licença de comentar. Seu post é bacana, no fundo é completado pelo post lá adiante, o do Osho: viver de olhos abertos, sem metrificar os próximos passos do futuro.

    Amor morre mesmo, não adianta. Não tem essa de amor eterno. Ou melhor, eterno até o amor pode ser, mas ficar juntos é outra coisa bem diferente. E se duas pessoas não ficam juntas mais do que conseguiram, e se o amor acabou um pouco antes do que deveria, é justo por causa dessas imposições e regras que vc mencionou, dessa metrificação e regulamentação do comportamento enamorado. São regras para as pessoas não sofrerem, o que soa até engraçado: a gente sofre e pronto e não adianta tentar se preservar. De tanto se preservar, a gente acaba perdendo a vida. Quem foi mesmo o poeta escritor filósofo ou caminhoneiro que disse "por delicadeza, perdi a vida"?
    É isso.

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